mardi 30 décembre 2008

paradise is for the blessed.

não, estou mentindo novamente. (:

and then it hit me.

que vida mais insossa eu estou levando.

mas, por favor, não divaguemos em resoluções para o novo ano -- low expectations, sabe como é. não estou esperando absolutamente nada. porque, usualmente, eu diria: em janeiro, tudo fica bem e fevereiro é sempre o melhor mês do ano. mas não quero nenhuma novidade, não quero ver nada digno de suspiros, nenhuma coisa-mais-linda-do-mundo; i've had my share, não preciso de nada disso.

eu diria até:

"Mas que só eu recorde a minha dor, Nastenka! Que eu não chame com amargas censuras uma nuvem sombria sobre a tua clara e tranqüila felicidade, que não desperte no teu coração o arrependimento nem o amargure com um secreto remorso ou o obrigue a bater com tristeza nos momentos de felicidade. Que não faça fenecer as ternas flores que colocarás nos teus cabelos negros no dia em que irás com ele ao altar... isso nunca! Nunca! Que o teu céu seja luminoso, que seja claro e sereno o teu gentil sorriso e bendita sejas tu própria pelo minuto de felicidade e de alegria que proporcionaste a um coração solitário e grato.

Meu Deus! Um minuto inteiro de felicidade! Afinal, não basta isso para encher a vida inteira de um homem?..."

basta, sim. um minuto é o bastante. i have nothing left to gain.

s'il Vous plait,

God, come down if you're really there.
well, you're the one who claims to care.

lundi 29 décembre 2008

(isso foi há um mês, um pouco mais, um pouco menos)

we can go for a walk where it's quiet and dry and we can talk about precious things; but love and life and poverty -- these are the things that kill me! ou podemos ficar aqui mesmo, visto que a rainha está morta, deitada sobre veludos e pérolas, enquanto sua alma lhe sai pela boca em imortais gemidos. mas não era isso o que eu ia dizer.

no entanto só consigo pensar n'a convidada. a vadia, é bem sabido, que era o amor contingente de jean paul -- seu nome era iniciado por uma icógnita e ela era toda impulsos de auto-depreciação; como alguém pode gostar de uma pessoa assim? era uma vez madame de beauvoir, muito mais densa, toda feita de laços e chás e lindas frases, tão róseas mas masculinas, como "não: ele não é meu irmão; mas se choro por ele, ele já não me é um estranho: são as minhas lágrimas que decidem"; e foi deixada de lado, questionando todo o propósito de uma vida, uma vez que seu amor essencial não era o bastante. mas enfim. também não era isso o que eu ia dizer.

pois bem, estou ilhada. o que se faz em uma ilha deserta? bem, vejamos: pode-se observar as palmeiras e coqueiros, encontrar um nativo e chamá-lo de quinta-feira, comer bananas e peixes, construir uma cabana com as folhas das já citadas palmeiras e coqueiros, ou sleep on and dream of love, because it's the closest you'll get to love. isso é algo que já faço bastante, e nem é preciso estar em uma ilha deserta; uma suave onda de ar, o som de um liquidificador, uma cadeira que se quebra -- tudo é motivo para que os mais doces pesadelos me atormentem por horas a fio, nas madrugadas mais silenciosas. mas não era isso, ainda, o que eu ia dizer.

o que era mesmo? i'd like to have company during thunderstorms, i'd like you to fall for me, but it'd soon turn lousy and wrong. mas certo, certo, carolina, não pense mais nisso.

e há brecht também. e há milhares de coisas a serem lidas, e, no entando, insisto em ficar aqui: fôrma sem forma, sombra sem cor, força paralisada, gesto sem vigor, como na lírica de eliot; nós somos as crianças ocas, as crianças empalhadas, umas nas outras amparadas, o elmo cheio de nada. ai de nós!

("assim expira o mundo: não com uma explosão, mas com um suspiro".)

e onde estão aquelas malditas senhoritas mariposas que outrora me sopravam as mais críveis felicidades ao ouvido? há alguns dias que apenas as abelhas vêm me visitar, enterrando seus ferrões em minhas mãos como se eu tivesse culpa por toda a infelicidade do mundo. bem: usualmente as pessoas infelizes são as que escolhem ser infelizes, não é? tenho bases filosóficas que me permitem afirmar isso: kierkegaard disse que a única verdade é a fé em uma objetividade. sartre disse que o homem está condenado a ser livre. juntando as duas premissas (1. a verdade é subjetiva; 2. qualquer pessoas pode fazer absolutamente qualquer coisa), temos: eu posso escolher minhas próprias verdades. então se eu digo que isso (um fato inventado) é a verdade, e não aquilo (o fato real), eu estou certa. claro: estou certa apenas enquanto operar na esfera do homem éctipo, alegremente encerrado em si mesmo; a partir do momento em que uma pessoa evolui do éctipo para o arctipo, e passa a ver as coisas através de sua simples mundanidade, já não se pode mais acreditar em verdades inventadas -- mas creio que aí haverão muitos mais motivos para sorrisos, no caso: tudo vai ficar bem. mesmo se for verdade que o homem só se completa na morte, tudo vai ficar bem.

mas o mundo é vazio, ultimamente; não me refiro às tardes que passo simplesmente existindo para o agora, que são completamente inúteis, mas agradáveis: e sim ao mundo como um todo. seven billion people who got nothing to say -- e eu entre ela, acenando, procurando porquês em flores; mas flores murcham, compreende? todos os meus porquês murcham junto, a cada declínio da temperatura, a cada passar de estação. se bem que. mas isso não vem ao caso.

ah, como eu era linda quando acreditava que a simples fuga para uma montanha distante, cheia de ursos, me traria todas as cores do mundo de volta. mas não se pode fugir daquilo que se é, não é? em qualquer lugar do mundo, continuarei sendo esta sombra: apenas uma sombra do meio-dia, quase imperceptível. nothing so ridiculously teenage and desperate, nothing so childish.

(but the color girls say: HEY, SUGAR, TAKE A WALK ON THE WILD SIDE!) mas eu jamais ousaria. a quase-inexistência me é confortável demais, eu gosto demais de tudo isso: não há grandes comoções, nenhuma surpresa, nada jamais acontece, o tempo é inextinguível, porque ontem é sempre hoje, e o amanhã será sempre o mesmo: um peso descomunal equilibrando-se sobre as minhas pálpebras, um dia feito de desinteressâncias. requiem aeternum. e não é possível mover-se; a lama de "como é" sempre me cobre até a cintura, performo o andar de auschwitz por toda a casa, me canso, durmo novamente. today i am remembering the time when they put me back and held me down and looked me in the eyes and said "you just haven't earned it yet, baby; you just haven't earned, girl; you just haven't earned it yet, baby: you must suffer and cry for a longer time".

mas enfim, também não era isso o que eu ia dizer. talvez eu não fosse dizer mesmo coisa alguma. mas é uma linda sexta-feira, isso não se pode negar.

et je tiens dans mes mains la seule de toutes les choses.

oh.

porque eu estava completamente absorta em algum pensamento banal, mas então o mais desconhecido pensamento me caiu no colo e foi uma sensação tão nova, compreende, como uma coisa que nasce -- mas não de ovo. não, não é como uma coisa que nasce, é como uma coisa que brota da terra; porque, antes que a primeira folhinha desponte, não é possível saber que havia algo vivo ali mesmo, mas escondido.

foi mais ou menos isso, e só pude dizer "oh", e franzir a testa, e ficar em silêcio, contemplando todo o novo mundo que de repente me foi ofertado, sem mais nem menos -- e não, eu nem agradeci. porque foi um pouco invasivo, sim; um pouco ofensivo, também.

mas não ruim, nunca. violento, mas suave: como se um travesseiro me fosse atirado ao rosto e explodisse, preenchendo todas as lacunas do universo com penas.

o fato é que acabo de notar (somente agora! me levou tanto tempo) que, realmente, não há nada pronto. não há repouso algum. nada é sólido. eu não tenho a mínima idéia do que vai acontecer comigo, a vida está toda inacabada, e eu tinha planos, eu tinha milhares deles: planos para amanhã, para o próximo mês, para os próximos cinco anos, ou seis, ou vinte, e agora -- agora: adeus, planos.

porque nunca se sabe quando virão os enxames de unicórnios, ou os dragões com dentes afiadíssimos, ou um novo dilúvio (e teremos de navegar nossas próprias camas, o lençol servindo como vela, e os sonhos, agarrados ao colchão, serão a tripulação toda do navio, mas a proa será onde fica o travesseiro ou onde ficam os pés? enfim), ou qualquer coisa que seja, então não é são fazer planos. ou, por outra: é, sim, mas apenas quando já se está livre o bastante para deixá-los ir, quando tiverem de ir.

isso significa que estou iniciando minha breve e tão recente vida como estudante de cinema, mas é muito bem possível que eu a termine, digamos, como uma contadora; ou uma botânica; ou uma astrônoma, sabe-se lá.

então: oh! e suspiro uma vez ou duas, penso em acender meu último cigarro, canto uma canção das montanhas, observo com tudo parece um pouco mais amplo -- ao menos agora sei que não preciso me debater por nada: tudo é acessível.

dimanche 28 décembre 2008

ce pour ça que je te deteste.

"- aime-la, cette fille, petit con, aime-la car elle pourra peut-être enfin te faire aimer la vie. (..) et le pire, c'est que tu n'es même pas capable d'être constant dans tes petits sentiments minable, tu t'es mis avec ta pute au bout de quoi, un mois? (...) et maintenant, t'es content, tu fais des galipettes, tu te prétends amoureux alors que tapes dix pouffiasses de banlieue par semaine pendant que ta bouffonne rêve de toi dans ses draps bambi!"

samedi 27 décembre 2008

avez-vous déjà mis la moëlle de l'épée dans le poêle de l'aimée?

acabo de decidir que o novo objetivo da minha vida é construir uma máquina do tempo e me casar com jean-pierre leaud.

vendredi 26 décembre 2008

primeiro, eu gostava de todas as coisas tristes que normalmente são encontradas em ruas, como gatos e despojos de teatralidades. uma vez, encontrei uma aliança prateada que alguém certamente atirou nos paralelepípedos jurando nunca mais amar novamente: esse tipo de coisa.

depois, vieram os dias de fantastiquices planejadas: animais bicéfalos floresciam por todos os lados em encantadíssimos bosques; rusalkas de pele úmida cantavam e levavam crianças à água; tudo era ambíguo e os dias eram todos melancólicos; tudo era excessivamente açucarado, a ponto de tornar-se amargo, enjoativo, desconfortável; qualquer folha caída de uma árvore era um pretexto para um suicídio.

depois, os dias ensolaradíssimos, a sensualidade das frutas maduras, os pêssegos e seus sucos, o ar; a materialidade gasosa dos sentimentos; musas neotropicalistas brotando asas de corvos alegremente, mil vezes perfuradas por espinhos de rosas; a ressacralização de tudo o que é veraniço; os cupins aprendendo a caminhar sobre a mesa, roendo vestidos de noivas ladedos de pérolas. tudo era deveras encantador.

e agora, não sei mais: as formas, talvez. as coisas ovais e essencialmente femininas, a graciosidade impercetível de certos gestos, as palavras desconhecidas. a leveza, os fragmentos temporais, a elegância natural das corças, a elegância forçada das bailarinas, a franqueza dura dos infelizes. todas as coisas translúcidas e monocromáticas, a palidez das nuvens e a aporia.
não não, estou só treinando, nada a ver com a realidade. adoro escrever "d'être", só isso.
et maintenant je ne sais plus rien. parce que tu sais que j'ai des sentiments pour toi. c'est n'est pas d'amour, mais... c'est l'envie d'être avec toi pour toujour.
(mais, peut-être, cette envie est l'amour. je ne sais pas.)
eu seria absolutamente feliz se pudesse botar um ovo, chocá-lo, esperar por um nascimento de algo tão hermético e alheio a mim. não consigo pensar em nada mais bonito.
melhor do que esquartejar hibiscos: ganhei um cacto que atende pelo nome de jean cacteau.

faute d'autre chose,

amanhã vou formalmente convidar o sol para entrar; então, vou me sentar debaixo da mesa, cintilando de felicitações matinais, e ler o livro de botânica. quem sabe até mesmo esquartejarei alguns pobres hibiscos (em verdadeira imolação), arrancando-lhe as pétalas a fim de ver seus órgãos mais íntimos de perto.

não, não tenho mais o que fazer, e nem poderia porque estou em recesso e posso usar meu tempo do jeito que melhor me parecer, certo, pois sim.
"A flor sempre nasce na axila de uma bráctea e, quando completa, conta de um pedúnculo que se prende ao caule por uma de suas pontas, transportando, na outra, os demais elementos que a constituem: cálice, corola, estames e pistilo.

(...)

os diversos elementos florais da magnólia dispõem-se de maneira helicoidal, em torno do eixo da flor. Flores como essa têm o nome de acíclicas. Em certas plantas encontra-se um tipo de transição, no qual o cálice e algumas pétalas são cíclicas, mas as demais pétalas e os estames dispõem-se helicoidalmente. Um exemplo disso encontra-se nas flores Victoria regia e demais Ninfeáceas."



eu juro que é uma das melhores coisas que li ultimamente. tão simples, tão objetivo, tão puro e verde, cheio de palavras bonitas que nem chego perto de compreender, como na figura 137, onde é mostrado o gineceu apocárpico de acônito. nenhuma pretensão verdadeiramente artística, nenhuma poluição mental, nenhuma vontade de mudar o mundo, nenhuma ideologia babaca escrita em neon nas entrelinhas.
é possível respirar, com um livro de botânica. é quase como abrir as janelas.

não consigo dormir e encontrei um altamente sensual livro de botânica.

"Depois de polinizadas as flores, os grãos de pólem absorvem água e germinam no estigma; os tubos resultantes (em geral um para cada grão de pólem), crescem por dentro do estilo, e, alcançando o ovário, penetram em seu interior até atingirem os óvulos nele contidos. Os elementos masculinos trazidos pelos tubos polínicos entrem em contato com os femininos existentes nos óvulos, fundem-se com eles, formando assim as céulas-ovo que, crescendo, originam os embriões das sementes."
(eu era tão bonitinha, em 2007)


françoise tinha bons motivos. sempre lhe diziam, não vá muito para o fundo, mas -- mas o sol hipertrofiado ria alto com sua voz de barítono, e o céu fundia-se com o mar em um ato escancaradamente sexual em turquesa, a espuma branca contorcendo-se na areia e jorrando por todos os lados -- e era impossível conter-se. era impossível não sonhar com lindas sereias e seus mamilos fluorescentes cor-de-rosa, vomitando notas musicais para o ar marinho cheirando a peixes violeta. era impossível limitar-se à gaiola listrada do guarda-sol, junto com a tia e o tio e o primo chato, quando se tinha treze anos e coelhos trágicos tocando harpa nas artérias principais.

estava um pouco frio, e chapéus perdidos rolavam na areia como bolachas-do-mar. srançoise mergulhava profundamente em nuvens de sal, à procura de peixes, palhaços, tesouros, como toda sonhadora idiota. seus delírios espiralando para fora da garganta chegavam a causar mal-estar. então não foi de todo mal quando a encontraram com gritos de terror bloqueando a traquéia, boiando suavemente como um pato de borracha: o coração em silêncio, os pulmões como aquários, e a boca cheia de pérolas.

a life-sized paper doll

a coisa mais boba do mundo: ter olhos que ardem, quase secando, e passar o tempo todo passando a mão na própria testa como que para varrer algum pensamento ruim (mas eles nunca se vão, não é? populam toda a casa, escondem-se dentro dos armários da cozinha e em cada gaveta, e por trás de cada porta, e dependuram-se no teto como móbiles estáticos, perfeitamente solidificados em pessimismo e fuligem).

querer desaparecer, também: não era para ser assim. há tanto a ser feito que nem me sinto de férias -- uma vida inteira a ser decidida antes que seja tarde, tarde demais, antes que seja amanhã e não haja mais tempo para nada a não ser lamentações.

por exemplo: há todos esses livros a serem lidos. não consigo sequer tocá-los, estou em completa estática de verão, pré-novo ano, pós-ceia de natal.

queria tanto uma existência de piano.

jeudi 25 décembre 2008

esqueci de dizer que passei a noite inteira ouvindo bang gang, isto é, no momento insônia: um milhão de morcegos espiralando ao redor da lâmpada acesa, cantando com suas vozes incorpóreas walking in my sleep so you can't have me; e tantas outras frases incompreensíveis em francês. o verbo avoir: nous aurion, tu as, j'ai, vous avez etc; depois: ça continue; e então: pour quoi pas?

agora necessariamente preciso esperar. hobsbawn está sobre a mesa, enfadado e suspirando. tudo está tão quieto, nunca sei o que fazer no natal.
ah, não foi tão mal assim; ganhei um milhão de livros, inclusive o revolução do cinema novo, do glauber. titio brigitte estava inspiradíssimo e comprou presentes para todo mundo; depois tomamos vinhos e vinhos e comemos doces e doces e eu não soube responder exatamente quando foi que debussy terminou la mer (1905, um sopro oceânico atirou-se em seu rosto).

depois, não pude mais dormir. havia mil planos para o novo ano, mas descobri que todos eles são em vão. eu praticamente resolvi o resto da minha vida em duas horas, mas. então não pude dormir -- uma certa inquieação me impedia de me manter quieta na cama, e eu tinha que levantar, ir até a janela, ver as luzes, e voltar, e depois me levantar, iniciar la doleur, da marguerite duras, depois voltar, depois me levantar novamente. esta foi a parte ruim. comecei a pensar na morte de um pássaro, uma pequena morte silenciosa e violenta, e chorei durante tanto tempo. nem ao menos me lembrava que era capaz de chorar assim.

mercredi 24 décembre 2008

you are too young to put all of your hopes in just one envelope.

my name is Hansel.

The taste is completely different from a Gummi Bear, yet somehow familiar. It's much sweeter than a Gummi Bear.
- Wow.
And softer, too.
- I feel so optimistic.
I suddenly recognised the flavour in my mouth -- it's the taste of power.
- Damn, Hansel. I can't believe you're not a girl. You're so fine. Why don't you take the whole bag?
He searches my face for news of his fate. His expression is echoed in scores of tiny faces, pressing against clear plastic, panting faces of every imaginable colour, creed, non-Aryan origin, fogging up the bag Iike the windows of a Polish bathhouse. I stumbled naked through the ruins, back towards blander, less complicated confections, Ieaving in my way a trail of rainbow carnage.

(MICTHELL, John Cameron)
mas não estou tão mal assim: nada se compara ao pesadelo do natal anterior. meu objetivo era: amaciar melancias. atirando-as contra paredes até que suas rosadas vísceras estivessem expostas, assim mesmo. como fazê-las mudar de idéia, senão amaciando suas duras cabeças? era a questão. depois aprendi que melancias jamais serão suaves. o grande truque consiste em trocá-las por outras frutas: como maçãs ou pêssegos.

uvas não: elas vêm em bando e são igualmente teimosas.
mas não para trás agora-há-pouco, para trás há-muitos-anos.
mas tem um motivo, não é -- além de todos os outros que enxameiam como borboletas à minha janela, atirando as palavras mais consoladoras de pura acomodação, há um motivo principal: eu gosto demais de tudo isso, jamais vou melhorar.
depender de outra pessoa é tão terrivelmente confortável, tão mais fácil do que cuidar de tudo sozinha, por mais injusto, egoísta e fraco que isso seja.

é claro que não há compensações de nenhum tipo. não há nada de belo em ter, digamos, um coração (ainda se usa este termo? não se usa mais, hoje em dia, eu creio) tão pesado que nem a mais caridosa das almas é capaz de aguentar. é preciso pisar nos mais gentis eflúvios de luz que se desprendem do coronário solar e ser capaz de equilibrar-se sobre eles por si só. e só então -- só então.

(mas minhas frágeis vértebras insistem no milagre do contorcionismo fanático, sempre me fazendo olhar para trás, então não há remédio.)
pretério perfeito e tal e coisa: estou quase escrevendo fábulas de princesas russas, inteiramente cobertas de pérolas e veludo; de tigres pensativos; de crianças com terríveis deformidades baleclassicamente girando em um palco.

"você mudou um pouco", ela disse, mas não. parece que foi ontem, mas foi há tanto tempo, quase três anos -- três anos e não aprendi nada, o que fazer de uma existência tão cheia de aquiescências? porque eu nunca sou um incômodo, nunca uma imposição. eu ainda me sento na escada, nos dias de sol, e conto até quinhentos; eu ainda cronometro meu dia; aimée ainda costura cisnes no céu (mas -- pobre alma: é sempre tão em vão).

ich grolle nicht.

ah não, estou sendo ridiculamente adolescente demais.
mas jamais seguraria suas mãos novamente, jamais. não ousaria colocar-se ao lado dele, não desse jeito. "eu não durmo desde que conheci você; construí uma casa de papel para nós dois às seis horas da manhã", mas jamais lhe contaria isso; "hoje eu comprei maçãs. maçãs por 4,99 o quilo, as mais vermelhas de todas", e então suspirava de emoção contida e quase começava a chorar. ele sorria; dizia as coisas mais bonitas e as coisas mais horríveis, sem pensar demais antes da verbalização -- e ainda assim, os outros sussurravam: ora, mas ele é tão contido e ela é tão impulsiva (sim, claro, diziam isso apenas porque uma vez apagara um cigarro no braço esquerdo, mas não era ímpeto algum, era amor-amor-amor, um amor desesperado e silencioso, um amor que só um querido pássaro poderia evocar, mesmo depois de alçar vôo e desaparecer entre nuvens: e apenas isto, apenas aquilo). "posso tocar você? você é de verdade?" -- e não ousava se mover, nunca mais.

humpty-dumpty c'est moi.

humpty-dumpty sat on a wall
humpty-dumpty had a great fall
all the king's horses and all the king's men
couldn't put humpty together again.
extração de glândulas lacrimais violentíssima como chacina ortodôntica -- mas não é bastante para Olivia Lefou. agora, ela quer aprender soprar notas de uma flauta, estilingar estrelas com pedras, fazer livros das letras da sopa de ontem.
as girafas explodem as cabeças de puro frêmito fantasioso, espalhando doces por toda a casa.
não nos importamos com a bagunça.
o sol está tão quente que preferimos arrancar a pele dos braços e dançar hop-hop-hop, tush-tush-tush, flat-flat-flat pelos corredores e não fazer mais lições. don't think you're alone, pequena Olivia Lefou, a boca e os olhos escancarados em êxtase da hemorragia extrativa. todos precisamos levar a torta à geladeira, de vez em quando.
quase todo dia, quer dizer, mas apenas quando os dias se tornam pesados, regurgitados por senhores de gengibre pela maravilha tecnológica da indústria telefônica. mas todos os pecados, agulhadas, tapas, chutes serão perdoados, no fim dos tempos, quando os anjos de gesso miraculosamente sustentados por asas de papel virão para nos fritar.
amém.

mardi 23 décembre 2008

a liberdade das águas-vivas, por exemplo. primeiramente, permanecem limitadas a uma existência banal de pólipo, presas ao fundo do mar sem qualquer mobilidade, aquiescentes a tudo. e as ondas vêm e as ondas vão e água salgada lhes penetra o âmago e depois é expelida. tudo passa: elas ficam. apenas depois é que são finalmente libertadas de sua grossa prisão marinha e flutuam por aí, chegando, às vezes, até as mais altas nuvens de sal.
e há aquela outra coisa, tão marítima e tão aérea, que também é muito diferente de tudo o que foi antes. (mas disto eu sempre soube, donc não estou nem um pouco surpresa, observem como não estou surpresa; não há mais aquelas pirotecnias, mas, quand même, je suis ici.)

é claro que em tudo há um pouco de tristeza, sempre há.
mas tudo está tão ensolarado que -- e por motivo nenhum, nada especial, mas talvez seja isso mesmo: tudo o que era extremo agora se foi. la mer est calme. e só é preciso um pouco de paciência -- e tudo há de ser amplo; as coisas levam um certo tempo para florescer.
sou incapaz de dormir, mais uma vez. e agora, o que? todo o mundo descansa, a cabeça suavemente imersa no travesseiro, uma multidão de penas e espuma, e continuo aqui. ainda não consigo acreditar que, em apenas alguns dias, será o novo ano.
(mas que diferença faz, ele disse, nada acontece com a mudança dos anos ou das estações: são apenas demarcações inventadas.)

mais j'ai peur, porque não será como os outros. era uma vez um padrão que, por pior que fosse, me entregava um certa segurança como um presente: tudo dará errado, no final, mas, durante algum tempo, todas as flores da ásia desabrocharão e se manterão vivas, como se artificiais.
tudo está tão diferente que nem ao menos me sinto mal, e dezembro costumava ser terrível, minhas mãos tremiam e todas as pessoas brotavam dentes enormes e pareciam tão más. agora elas parecem apenas pessoas, como eu.

adeus, maniqueísmo, para sempre.
era a coisa mais bonita do verão: ela poderia passar horas em êxtase observando os cupins despojando-se de suas asas feias, aprendendo a andar sobre os móveis. assim era chloe: desasada como um deles. nunca pretendera ser um anjo; desejava, aliás, ser ainda mais fria, como uma defunta criança sufocada por lágrimas e cânticos quase sagrados e flores brancas -- os cílios longuíssimos e multicoloridos apontando na direção do umbigo, totalmente fechada em seu próprio corpo e preocupando-se apenas com a putrefação.

samedi 20 décembre 2008

une jeune fille brûlée se regarde dans un miroir:

sou tão terrível quanto.
(non: je ne suis pas triste. des gens passent pour moi comme des films passent au cinéma -- le silence habite tout les coeurs qui je connais. pourtant: je t'aime encore; mais tu ne peux savoir.)
tu est mon petit rêve d'amour. tout les jours, je reveille et je pense a toi -- ton trait, plein d'ailes d'un oiseau perdu dans les efluve de l'été. oh, oui -- l'été n'est pas comme il était. tu me manque -- beaucoup. les oiseuax ne volent pas. le jour tombe sans toi, et moi je reste seule:
dans mon chambre,
dans le monde -- que si trouve ainsi complete, même sans toi. il n'est pas. il est mort.

nous sommes seulement des ombres d'un adieu.

vendredi 19 décembre 2008

todas as coisas celestes e todas as coisas suaves, quase imperceptíveis: é só o que me importa. tudo o que é por demais óbvio me ofende, e tenho pra mim que com razão. não preciso pedir desculpas por ser assim, ainda bem.
aceitar tudo (em especial, as coisas ruins: espinhos me são sembre bem-vindos, mas, quanto às flores: piso-as todas, rejeito-as, incrédula) o que vier dos outros, faute d'autre chose: isso não é vida. é existência, é claro, pois até mesmo colheres existem, mas não é vida. a vida manifesta-se apenas em contato com a umidade confortável da aceitação de si (como sementes de plantas que se contorcem no ventre das terras áridas).

não quero mais ser assim. muito obrigada, mas não quero uma vida cheia de pesadelos: prefiro as gaivotas.

comme toi, je connais l'oubli.

eu apenas queria ser capaz de ser, a toda hora, sincera: e não me esconder do que eu sinto precisamente com maior intensidade -- a culpa, por exemplo. a inveja e o ciúme, por exemplo. são as três máximas que vivem estourando dentro de mim, mas que, de alguma forma, sou incapaz de admitir.
jamais diria: oh, que inveja dos braços leves das outras, de suas pernas bonitas, de seus ventres sempre em entrega.
jamais diria: when you're gone, i hate the people you're with because they are with you -- and i'm not.
jamais diria: je suis désolée.

isso, como uma onda, é capaz de engolir uma pessoa e torná-la apenas manifestação objetal de um corpo sem alma. a falta de franqueza consigo mesmo, eu digo. e não leva a nada, não há nenhum glamour em ser assim. é preciso respeitar tudo o que se sente: do contrário, a liberdade será apenas uma nuvem onde nunca se roça as mãos.

samedi 6 décembre 2008

if there's one thing that i learnt when i was still a child, is to take a hiding.
então eu, que queria ser um urso, me escondo nos cantos mais azuis de toda a galáxia: esquartejando margaridas, cantando canções lunares, lalala lalala lalala infinitamente, e sem qualquer ritmo, sem jamais chegar a lugar algum.

mas há lindas constelações para onde quer que se olhe, e há silêncios ladeados de tanto significado. e não há mais ninguém: isso é confortável. é quase como flutuar.

ume pequena desculpa

pois há muito a ser dito, tudo explodindo em mim em terríveis pirotecnias.
tudo muito estranho, falível, líquido demais, o mundo todo se recusando a ser tocado por mim.

o único modo de solidificar algumas coisas é escrevendo sobre elas.

(mas cada silêncio vale mil palavras)

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