jeudi 2 avril 2009

samedi 14 mars 2009

outra coisa que tem me incomodado um tanto

é a minha vontade de chegar e dizer, e não me importar com a resposta, apesar de eu saber que eu também tenho pontos fracos, sou um acumulado de pontos fracos, tudo me dói, mas eu gostaria de dizer mesmo assim, mesmo sabendo que a réplica poderia me quebrar em duas: mas o que é que você vai fazer da sua vida? what you're gonna do when the novelty is gone? porque...

(não que eu saiba o que farei da minha, mas acho que ainda consigo alcançar uma certa profundidade nas coisas, ao invés de nadar apenas na superfície.)

... porque, como é possível que um robin sparrow tão adorável, tão cheio de diamantes e coisas bonitas, tão singular, possa gastar toda uma existência voando tão baixo, se satisfazendo com o que há de mais vulgar em toda a terra? eu não o culparia, se não o conhecesse. eu pensaria: il est comme un autre. mas as coisas não são assim, a não ser que eu seja louca, a não ser que eu tenha inventado tudo, mas eu juro que não inventei -- há algo tão bonito dentro de você: algo que ainda não sei definir, meus olhos não foram feitos para longa distância, mas é algo tão maior.

e vê-lo assim, atirado às coisas mais banais, é como ver uma coisa linda se tornar podre, triste, morta, em pedaços. não é possível que só eu enxergue isso. não é possível que você não tenha se dado conta. eu jamais poderia segurar suas mãos novamente, não é isso o que eu quero: i'm not your answer, eu sei que não, mas -- mas, céus, quelle douleur au coeur de vê-lo dessa forma, um inseto caminhando sobre a membrana superficial de um lago. não posso ajudá-lo, eu sei. só posso lamentar uma existência tão patética, ainda mais patética do que a minha. você é como uma ostra incapaz de formar pérolas, uma coisa estúpida e inútil. e, quanto a mim,

i just want to
i want to see the boy happy
with some hope in his pale eyes
is that too much to ask?
before die,
i have one final dream.
for my own life i don’t care anything.

oh, robin sparrow.

qual é a pena por desistir de tudo? porque está calor demais para existir. passei a tarde toda andando pela casa e perguntando o que farei, oh, céus, o que farei? afinal, o desastre parece inevitável, e as consequências serão -- não quero nem pensar.

oh, robin sparrow, know you're the only one who can make me sing.
and, if our hands should meet again, let them let's cut them off and flee.

e ainda há o fantasma de humberto mauro cintilando sobre o quarto, pairando sobre a minha cabeça, ávido para que eu escreva sobre ele. Humberto Mauro foi o precussor do Cinema Novo, sendo a grande inspiração de Glauber Rocha -- e toma de blablablá. preciso ainda traduzir um roteiro imenso e, nesta mesma noite, sair para socializar. e todos sabemos dos meus problemas com socialização, não é mesmo, é o tipo de coisa que não funciona comigo.

passarei longe daqueles belos copos, cheios de pequenas carpas que bailam em seu conteúdo rosado, todas mau-intencionadas. evitarei com veemência qualquer contato com seres humanos desconhecidos. ficarei sentada a noite toda, suspirando como uma princesa do enfado.

céus, ser engolida por uma baleia ainda parece a melhor das opções. quando me perguntarem: onde você se vê daqui a quarenta anos? direi que me vejo felicíssima, morando em um estômago.

mercredi 4 mars 2009

how long until you're here with me?

dimanche 1 mars 2009

senhores, só serei feliz quando me tornar o urso dos encanamentos.
estou maluca de vontade de chegar amanhã e perguntar: professor, todas as vidas são realmente sem-graça, ou só a minha? o senhor acha que estou sendo pessimista? etc.
ok, suponho que posso começar o próximo agora.

samedi 28 février 2009

i have saved every piece of paper,
like grocery lists
and note cards,
to-do lists
and race scores,
so, just in case you change your mind and come back,
i've kept everything safe.

vendredi 27 février 2009

the chink in my armor

pronto, já sei a coisa mágica que pode acontecer: quero morar na floresta encantanda com benoît pioulard. (:

life is so saaaaaad, life is soooo saaaaaaaaad.

quer dizer, não sei se eu reclamo demais das coisas, mas, céus.
só falta agora um corvo sentar na minha janela e começar a grasnar nevermore nevermore nevermore. porque vou dizer.

e ainda terei mais uma daquelas malditas aulas de direção hoje, com aquele professor idiota que diz que eu tenho pés pesados. digo, mil perdões se meu cérebro classificou "carros" como "instrumento pesado, neandertal, gigantesca extensão do meu corpo" e, por consequência, eu acredito que preciso fazer a cavala e pisar nos pedais com força etc. sério, meus pobres conhecimentos de mecânica me dizem que é preciso um grande dispêndio de força pra movimentar algo brutal como um carro.

anyway. eu até tinha coisas bonitas a dizer, coisas sobre ursos e coisa e tal, mas acordei há menos de uma hora e já não estou tendo um dia muito agradável. tudo ensolarado, o papagaio da vizinha alegremente conversando com objetos, uma imensa árvore de flores laranja delicadamente ondulando, mas.

eu preciso que algo maravilhoso aconteça, mas nem mesmo consigo imaginar algo maravilhoso para acontecer.

põe aí que hoje eu sou o zangado.


nhé.

vendredi 20 février 2009

então tive minha aula prática de direção hoje e foi um horror sem tamanho. não consigo mexer tantas partes do meu corpo ao mesmo tempo, isto é, os pés, as mãos, a cabeça -- e ainda responder às perguntas bobocas do instrutor.

um carro é um mecanismo complicadíssimo e parece-me que as mãos têm de estar em todos os lugares ao mesmo tempo, e as minhas, infelizmente, não acompanham. os pés, então, nem se fala. pisava em todos os pedais com todos os meus pés o tempo todo, e o carro tossia e reclamava e eventualmente morria.

é vergonhoso, uma falta de talento. é preciso ser um polvo para lidar com uma máquina dessas, falo sério.
eu sei, é quase natural que as coisas sejam assim, enfeitadas e galantes, preenchidas com pequenas frescuras e pequenas elegâncias, mas, oh, me parece um dispêndio de energia tão grande e tão sem sentido, isso de tentar ser marilyn quando ninguém está olhando.

dimanche 15 février 2009

senhor, ei, senhor, nós não nos importamos: you crawled off and left us, mas não perguntaríamos nada, se o senhor voltasse. não exigiríamos explicações. seu travesseiro continua aqui, empenado e pálido -- empoeirado, sim -- mas seríamos excessivamente felizes durante alguns minutos, se tivéssemos de levá-lo para fora e batê-lo, formando imensas nuvens de poeira, e depois trazê-lo novo para dentro, para que o senhor deitasse sua nobre cabeça. porque saberíamos que sua cabeça acompanha sempre seu corpo e que isso significaria tê-lo aqui novamente, entre abacaxis, palmeiras e todos os nosso pequenos sonhos, ainda adormecidos em sementes. não nos importamos nem mesmo com a marca de catapora, como uma cratera lunar em seu resplandescente nariz, apenas imploramos: retorne, antes que seja muito tarde, tarde demais, e um novo dia floresça e o esqueçamos.
senhor, eu acho muito rude matar o urso;
o senhor gostaria de ser o urso?

mercredi 11 février 2009




but we'll take the fake happy over knowing what's wrong and we'll give you the stuff that you need to belong, and hope that's what you need, by a small chance: a quick and heavy dose of acceptance.

growing gets hard, time is running out.
and you'll die a young and exciting death, and you will tell us all in your last breath "i'm done there's nothing to be happy about."

mardi 10 février 2009

hai kai ridiculinho

o tédio pousou sobre a minha cabeça
botou um ovo
partiu

fight the wind and wait for you.

Robin Sparrow,
know you're the only one
who can make me sing.


(and if our hands should
meet again,
let them.)

lundi 9 février 2009

this world, i am afraid, is designed for crashing bores.

a incoerência humana é realmente algo digno de análise, porque, sério.

vendredi 6 février 2009

mas o que se pode fazer, não é? assim expira o mundo.
(não com uma explosão, mas com um suspiro.)

my love life.

primeiro eram enormes e pesados carrosséis de cavalos-sem-cabeça, sangrando xarope artificial de morango pela ferida no pescoço.
depois, palmeiras e diamantes, infinitas xícaras vazias espreguiçavam-se ao sol sobre a mesa, o lençol era azul e corvos empoleiravam-se à janela.
em seguida, o sol saiu; sempre sol, mesmo quando chovia. centenas de pardais, andorinhas, colibris, pintassilgos, rouxinóis, tudo o que há de alado no mundo planando longe, sem nem mesmo bater as asas, sem temer qualquer gaiola.
e então -- nuvens e pequenas conchas, arco-íris de asfalto, aviões traçando linhas no céu, o mundo todo enfeitado, o mundo todo um castelo, pomares, dilúvios, estranhas plissagens.

agora, só nuvens. todas em formatos, não de nuvens, mas de sopros cheios de significado; as estrelas, presas ao céu por longas linhas de nylon, balançam e escondem-se. o mar espuma, mas não chega até aqui, eu diria que nunca vi o mar.

and it's likely to be too late.

é tão triste quando você sorri para uma pessoa e ela sorri de volta, de longe, e os olhares dos dois se roçam como asas de pássaros e você sabe que compartilham o mesmo pensamento -- no caso, de que teríamos sido bons amigos --, mas já é tarde demais.

jeudi 5 février 2009

se por acaso os anjos descessem até aqui e me perguntassem, cheios de asas e penas e compaixão, qual seria a raça que eu gostaria de exterminar da face da terra (como um bônus: você foi uma menina boazinha e por isso merece uma recompensa), eu diria:

a raça das pessoas que mexem com as outras no meio da rua.

acho um ato desnecessário, invasivo, frequentemente equivocado, falha de caráter, falta de modos e de surra.

digo, não é engraçado. e se você realmente tem de fazer um comentário sobre tal pessoa, diga-o baixinho para o seu amigo do lado, ou anote para comentar depois, durante o jantar, com toda a sua família que certamente ficará orgulhosa de ter dado à luz uma criatura tão amável. porque, acredite, ninguém realmente se importa com o que uma pessoa na rua pensa dela; pense o que lhe parecer melhor, mas, por favor, não interaja. não grite. não avise que a pessoa que está passando é isto ou aquilo ou aquilo outro. principalmente porque você é tão vulnerável a comentários quanto ela, e ela replicaria no mesmo tom, se quisesse -- mas oh, por que perder seu precioso tempo e toda a elegância ao berrar no meio da rua? ninguém acha isso legal, engraçado, agradável ou seja o que for. só você.

ou, ainda, se a intenção for ser realmente desagradável: missão cumprida. mas, honestamente, por que alguém faria isso, digo, ser desagradável e propósito com um estranho que poderia muito bem ser um sociopata ou seja o que for? ou mesmo um não-sociopata, mas armado de uma pedra, um tijolo, um vaso, que seja, nunca se sabe. por que alguém seria propositalmente desagradável com alguém que nunca lhe fez nada? por que alguém ofenderia alguém só pelo fato de sua vida ser tão vazia, entediante e em vão, que ele precisa deseperadamente fazer com que outra pessoa se sinta ainda pior que ele mesmo? fazer uma pessoa se sentir mal não vai mudar o fato de que a sua vida é vazia, entediante e em vão. só vai magoar alguém que não tem nada a ver com isso.

não compreendo. de verdade, não compreendo.

mercredi 4 février 2009

you've got a diamond under your skin.

eu sabia que mais cedo ou mais tarde ele desabrocharia, abriria seus longos olhos em uma manhã pálida como qualquer outras e seria capaz de ver tudo aquilo que é inacessível para tantos outros.

eu sabia que só precisava esperar um pouco, ser graciosa e paciente, não desistir. pois sempre foi tão diferente; nada urgente, efêmero, banal. ou por outra: banal, sim; como o são todas as coisas dignas de suspiros. mas nunca algo comum, cotidiano. um algo que só se encontra uma vez a cada duzentos anos, a cauda translúcida de um peixe de aquário, notas musicais que perfuram nuvens.

and that black rock in your bedroom, i hope you'll climb it soon. in your boat, tied to a tree, i hope you'll find the sea.

falta tanto ainda, mas agora parece tão pouco. ele vai ficar bem. dizer isso é como respirar novamente: ele vai ficar bem. preciso admitir que eu receava que não, que suas pálpebras estivessem cerradas definitivamente, trancando seus olhos em nuances de escuro. mas é claro que não: ele vê; respira; e fala, que linda voz.

mas o que mais poderia se esperar de alguém tão azul, tão flutuante quanto uma nuvem? he's worth hundreds of sparrows.

lundi 2 février 2009

il n'est pas une bonne idée si on réceptionne la nouvelle année avec peur ou colère, je crois.
la nouvelle année est comme la naissance d'un oiseau: on dois lui tenir avec ses deux mains, tout délicatement, et soupirer, pour lui insouflant la vie aux ses petits poumons.

dimanche 1 février 2009

ontem eu fui ver uma orquestra sinfônica. era como flutuar. era como amar 80 pessoas de uma vez só, e querer mandar flores a elas, com cartões individuais, todos cheios de coraçõezinhos nas margens.

hoje eu estive em uma cozinha azul e foi como estar em um filme. lá fora, as orquídeas desabrochavam lentamente e maritacas atiravam frases banais umas às outras.

vendredi 30 janvier 2009

pensar demais em nuvens anda me ofuscando a vista. acho que estou esperando por um eclipse.

mercredi 28 janvier 2009

maybe i should go and live amongst the animals.

MAS MEU DEUS.

aí, ó. é por isso que eu não aprecio relações interpessoais. simplesmente não tem como acabar bem, eventualmente alguém vai sair mancando.

adendo

preciso explicar melhor isso do ciúme.

porque eu resolvi prestar homenagens e então fui ler a volta ao dia em 80 mundos antes de dormir. e eu estava quase-quase. mas que mentira, não estava não. estou completamente acesa, ainda, nenhuma molécula de sono, nenhuma dormência confortável crescendo como embrião no meu cérebro, nada. mas enfim, estava lendo. e aí ele me vira e diz:

"conheço um grande amolecedor, um sujeito que vê mole tudo o que vê, amolece as coisas só de vê-las, nem sequer de olhá-las porque ele vê mais do que olha, e então fica por aí vendo coisas e todas são tremendamente moles e ele está contente porque não gosta nada de coisas duras."

então, veja, não tem como não querer possuir uma coisa assim, com toda a exclusividade que há no mundo. sem contar (e essa parte eu até relutaria em comentar, mas) que ele tem essas expressões, uma expressão específica que, oh. tá bem, eu digo: ele diz tchê. e a nostalgia me vem como uma onda (de mar, não de ar; essa onda, eu diria até, é nada mais do que uma imensa carpa lilás), cheia de gotas de vidro azuis, espumas e pérolas e flocos de açúcar. eu não luto contra, é irresistível demais.

por isso, concluindo, eu tenho ciúme do julio cortázar. e nem me envergonho, havia mentido.

e ainda acrescento que também tenho ciúmes do marcel proust. desculpe-me, mas ele falou de coisas róseas, de plissagens, de flores brotando de xícaras de chá, e não tem como. esta é outra coisa contra qual eu não luto: algumas frases são simplesmente tão perfeitas que é como se houvessem sido cuidadosamente esculpidas durante anos, então se elas se atiram contra mim e pedem que eu as adore como se fossem deusas, bem, não posso fazer nada.
preciso confessar que eu morro de ciúmes do julio cortázar, do anton tchekhov, do samuel beckett e do james joyce.

e do morrissey também,
do sindri do seabear,
do martin wheeler do vector lovers,
do wim wenders,
da liv ullmann,
do lukas moodyssoon,
do bertolt brecht,
do joel nicholson do butcher the bar,
dos dois lovekevins,
do ólafur arnalds,
do jean-pierre leaud,
do ian curtis,
do mário peixoto,
do dr. seuss,
do eduard uspensky,
da monica vitti
e do lukoyanychev do sleepy town manufacture também.

eu gosto, e muito, de mais milhares de pessoas, mas céus, juro que me dá uma angústia que eu não sei explicar quando vejo outras pessoas gostando desses, até me envergonho.
i know i'm dressed like a child,
but you're all dressed like death.
and there's a river that flows
right through my home --
it's full of keys and toys
that you forgot you had.

sleep on and dream of love (because it's the closest you'll get to love)

minhas considerações sobre carência afetiva:

já que nunca vai passar, de qualquer forma, não é mais fácil simplesmente lidar com ela? tinha um poema do drummond, eu acho, que dizia algo sobre isso. mentira, não me lembro se era do drummond, só lembro que li em algum lugar e era muito bonito e simples e terminava com um suspiro (um suspiro conformado, mas não conformado de um jeito negativo, era um suspiro leve talvez até de alívio).

todo mundo está sempre procurando por alguém ou algo, mas sabe. é tão em vão.
não que eu esteja sendo amarga e rancorosa, só estou constatando objetivamente, com o distanciamento de uma enfermeira.
e muito menos estou dizendo que as pessoas deveriam desistir umas das outras, céus, não. se elas desistissem, elas não escreveriam músicas lindas sobre isso, com frases como there is a diamond under your skin, e eu morreria porque praticamente me alimento de frases assim.

digo, só acho que, se as pessoas se dessem conta disso, sabe, de que sentir um vazio afetivo é completamente ontológico à todo mundo, ninguém iria perder os eixos tentando preenchê-lo, nem se divorciariam tanto e não ficariam todas doentas do pulmão e do coração e de tantas outras coisas, de pura frustração.

vou citar o buk, mas sem querer soar certa nem nada, é só que eu me lembrei:

one must finally consider the real things:
most creatures are incapable of love.
almost every walking talking living creature is
incapable of love.

this is not inconsiderate of them--
it is like asking them to have 3 eyes when
they only have 2.
it's like asking them to have what they do not have:
frogs are frogs
dogs are dogs,
the mould is set.

(...)

when you loot at that empty bed
do not always consider it a defeat--
a sexual starvation, perhaps,
but there's more room to strech the legs
and the arms.
there's room to consider and to think and to wait,
and if that one doesn't arrive
any time and forever
realize that
doves need doves
crickets need crickets
swordfish need swordfish
fleas need fleas
hogs need pigs
pigs need hogs.

the river runs alone.
there is only one sun.

and sometimes alone
when the agony seems greater
that the gut-mind can bear
laughter arrives.

in small rooms
laughter arrives
you begin to laugh
the gift arrives
this laughter
and it runs up and down the walls
until you get tired and the walls
get tired
and then you sleep
and then you sleep
and sleep and sleep...

(ici)

mardi 27 janvier 2009

i'm feeling better everyday.

mas o lobo, não é mesmo? ele pára diante da porta e sopra.

...

acho que não existe palavra mais ridícula e pretensiosa do que "intermitentemente". luzes intermitentemente etc, por exemplo. não é mais simples dizer que as luzes piscam? piscar é uma palavra muito menor, mais limpa, até. não polui e não ofende ninguém. e passa a mensagem tão bem quanto, sem floreios nem nada.

...

e o que se faz, minha querida, quando o sol pára no centro do céu e resolve que nunca mais irá se mover? bem: bebe-se um copo d'água e fica-se em contemplação do eterno dia, aguardando pelo domingo. (domingo sendo um monstro, uma nuvem de ar ruim, amarela, secando flores.) nunca é suave, nisso concordamos. por outra, é como quebrar os dedos todos e nunca curá-los. as coisas têm de fluir, por isso.

...

amanhã terei mais daquelas aulas chatas e compridas como girafas (mas nunca tão elegantes) e pretendo levar, como meros passa-tempos:

1) um caderno
2) dois livros
3) lápis de cor
4) um polvo gigante e o templo de hércules

(porque é impossível se aborrecer pensando no júlio verne, você sabe.)
ai que droga, que droga, que droooooga.
you know it saves me to think even for a little while
i owned the set of shoulders that you came to rely on,
like in that movie theater when you whispered in my ear:
i almost didn't make it,
this has been my hardest year.

(...)

i don't care where you move, i don't care if it's far,
all that i ask is that i know where you are,
in case our timing is right,
in case you need more from me,
than a bit of advice
or a tongue full of sympathy.

dimanche 25 janvier 2009

mas que estranho. de repente me pareceu que eu tenho tudo. assim, não tudo-tudo, mas tudo o que eu preciso. não digo que chegou a ser uma felicidade como, por exemplo: que bom! eu tenho tudo!
não, não.
foi algo como: oh, eu tenho tudo. como alguém que acende uma lâmpada e vê que estava tudo ali o tempo todo. uma constatação. e um suspiro meio sem graça: bem, então, se algum dia, eu precisar, não preciso entrar em pânico.

quer dizer, não que eu tenha tudo efetivamente, entende? é só que, por um momento me pareceu que as coisas são todas acessíveis. ou que, por outra, everything is in its right place.

tanto que hoje não foi um domingo sucida como todos os outros. nada de flores apodrecendo no chão, nada daquele sol horrível que implica em uma semana exatamente igual à anterior, aquela falta de sentido, o andar em círculos, oh. nada disso. passou tudo bem. e nem precisei me divertir nem nada assim.

acordei e estava tudo aqui. e mesmo que não estivesse, como algumas coisas não estavam, elas estavam sim. sabe? não sei explicar, não sei explicar. posso estar ficando maluca, pode ser alguma alucinação de onipotência, mas acho que não, porque não estou morrendo de estusiasmo nem nada, não estou saltitando.

é mais ou menos assim:

so i leave my possesions to the wind
and i'm done with ever wanting anything
well i can die satisfied
no desires do i hide
not today, not today


bem mais ou menos. porque eu ainda quero algumas coisas. a diferença é que, por hoje, aquela urgência sumiu. i don't mind the wait, tipo isso.

samedi 24 janvier 2009

i can't wait to feel brand-new,
i can't wait to meet you again, friend.


i think i must have known you in another life.
i think our rocking chairs used to rock together all night.



(milhares de nuvens estão sendo perfuradas por andorinhas as we speak.)
todos nós acenamos nossos permanentes adeuses hoje. mas só o que consigo pensar é em como seria ser engolida por uma gigantesca baleia. ela teria, é claro de me engolir sem qualquer mastigação, para que eu descobrisse, de uma vez só, as estrelas úmidas de seu céu da boca e em seguida a amplidão de sua caixa torácica. nas vermelhas paredes, os nomes de todos os que passaram por ali antes de mim; e então a mobília, já roída pelo sal, uma vasta biblioteca, um gramofone. algas pendendo do teto, oscilando conforme a baleia respira, e aquela clarabóia por onde o sol entra, incapaz de formar sombras.

what i should do with my life?
how should i spend my time?

e eu escreveria um livro enorme sobre a rotina dentro da baleia, em azul e vermelho. eu escreveria sobre como toda a gente se engana, pensando que uma baleia tem apenas um cômodo, mas na verdade são vários quartos, sobre como é possível dançar o dia todo, fazendo a baleia dançar junto, sobre como não é nem um pouco solitário, nada silencioso, e sobre como é preciso se agarrar às algas, quando a água entra, e prender bem a respiração ou se morre afogado, e sobre como a alimentação ali torna-se apenas algas e pequenos peixes crus, como no japão.

provavelmente ninguém acreditaria em mim, mas, céus, eu seria um urso feliz.

vendredi 23 janvier 2009

unless you are a dog.

VOUS VOULEZ TOUS ME TUER!

oh, céus.

eu não ia comentar, mas vá lá. começou assim, recapitulando:

quarta-feira acordo com aqele número do rio grande do sul me ligando pela enésima vez. pensei, boba do sono: que mal há? e atendi. era a minha ilustríssima roomate, dizendo que tinham ligado no celular dela pra avisar que estava vazando água por debaixo da porta do nosso apartamento e que seria muito bom se eu fosse lá ver o que é que está acontecendo.

daí eu fui hoje, junto com a dona minha mãe, porque caso o lugar estivesse todo encharcado, eu não ia querer limpar tudo sozinha, né? pois não possuo qualquer tipo de talento para as artes domésticas, de verdade. não chega a ser preguiça, é só que, quando eu tento arrumar uma coisa, acabo desarrumando umas três e fico andando em círculos sem resolver nada. enfim, era só a torneira da máquina de lavar que estava frouxa (ou sei lá), não tinha tsunami, não tinha móveis carcomidos pela ação das marés, nada de muito sério. enxugamos o chão, fechamos a torneira e pronto. daí fui ligar pra roomate pra avisar que estava tudo certo enquanto minha mãe fuçava pela casa em busca de whatever.

estou sentadinha no sofá, feliz e contente, depois de falar com a roomate, esperando meu amigo me ligar, e então minha mãe vem branca da cozinha. a geladeira... a geladeira... ai, vem ver. fui.

a geladeira, cheia de coisas dentro, tinha se autodesligado por algum motivo. e enfim, coisas de geladeira, quando não devidamente geladas, estragam.
ver também: carne em decomposição.
ver também: larvas.
ver também: uma verdadeira nuvem de moscas.

como se alguém tivesse esquecido um cadáver de uma doninha dentro do congelador, tipo assim. e eu senti aquele pânico crescendo em meu pobre coração e aquela vontade de sair correndo, de comprar uma geladeira nova, porque meu deus: LARVAS. todas vivas e felizes serpenteando umas sobre as outras, pequenas e brancas.

e ha-ha, sinto muito, mas não toco em larvas. eu sei que é frescura, eu sei mesmo, mas não dá, sinto muitíssimo, mas é algo que simplesmente não acontece, comigo. se eu limpasse aquele congelador, eu teria que, no mínimo, arrancar meus dois braços logo depois e bater na minha roomate com eles, por ter deixado a maldita carne lá durante dois meses. não é como se ela fosse comê-la depois, né. mas enfim.

daí liguei para a miriam, que é a faxineira que vai lá uma vez por semana, e disse que era uma EMERGÊNCIA, que a geladeira estava APODRECENDO, que ela PRECISAVA me ajuda. com essas ênfases mesmo. e ela disse que viria amanhã, o que eu espero que ela realmente faça, e que dê um fim às larvas e moscas e etc. mas eu não sou tão horrível assim e comprei mil produtos de limpeza novos, além de luvas, porque, né, suponho que as outras pessoas também tenham horror a larvas, como eu. espero, com todo o meu coração, que ela seja capaz de dar conta do recado, porque, sem brincadeira, se ela não der um jeito naquilo eu me mudo. nunca mais apareço naquela casa. sou até capaz de largar meu kafka-com-valor-emocional lá sozinho, just try me.

enfim. daí eu tinha que deixar a chave pra ela na portaria. então o porteiro diz que NÃO, NÃO PODE. daí eu tento deixar com alguma das vizinhas, mas NÃO, ELAS FORAM VIAJAR. daí eu tento deixar na portaria do antigo prédio onde morávamos, mas NÃO, NÃO PODE. daí eu surto, o que mais poderia fazer? e, senhoras e senhores, duvido que acertem a frase que eu proferi ao menos quatro vezes em um intervalo de dez minutos.

não?

pois bem. "MAS O QUE FOI QUE EU FIZ PRA MERECER ISSO? CÉUS, QUE AZAR", porque eu desafio alguém a manter a calma em uma situação assim. quer dizer, gandhi conseguiria, blablabla, mas, convenhamos.

daí eu deixei o apartamento aberto mesmo e seja o que deus quiser. se tiver algum ladrão naquele prédio, ele certamente irá deitar e rolar e fazer a festa com os nossos eletro-eletrônicos, mas whatever. ao menos não teremos mais larvas. nem geladeira, talvez, mas pelo menos não teremos mais larvas.

tenho que admitir que ainda sustento a minha posição de que o ideal seria chamar os bombeiros pra levar aquela geladeira embora e comprar uma nova. mas nunca comprei uma geladeira na vida, suponho que sejam caras, então vou tirar essa idéia da minha cabeça.

passar bem.

mercredi 21 janvier 2009

bom dia, ela diria (era um lindo dia!), entre os anêmicos bambus que brotavam de vasos quadrados, tristonhos. o tecido azul do céu parecia encardido, de tantas lágrimas contidas; mas ela ainda diria que era um lindo dia. oh, aquela musa neotropicalista, evocando bananas e pêras e nomes de escritores difíceis, lentos, que falavam sobre róseas conchas que se erguiam como agulhas, em sua plissagem demoníaca e doce; e sobre a fenda do pêssego; e sobre noites azules onde as matrioshkas nevavam, desfazendo-se.

alguém lhe disse: que cara é essa?

foi como levar um chute na traquéia. detestava horrivelmente que tivesse de justificar-se diante daqueles que nem ao menos compreendiam a envergadura de suas asas imensas, que nada sabiam sobre bananas e pêras, sobre a cor melancólica das penas dos corvos, sobre os mortos que ressucitavam, em pedaços, vestindo trajes de tule azul-esmirna. não. sentia o coração murchando ao ter de trair-se de maneira tão inevitável, engolindo todos os peixes lilases e dizendo: nenhuma, não é nada. pois se ela ousasse dizer a eles sobre tudo aquilo que havia dentro de si, oh, eles se revoltariam, atirariam-lhe pedras desdenhosas, aqueles malditos. se pudesse, os trancaria no picadeiro de um circo e ataria fogo à lona colorida. acenderia um cigarro e se sentaria na calçada, entre bailarinas inexpressivas e pipoqueiros, observando-os serem carbonizados um a um, transformando cada grito tétrico em uma nota musical que flutuaria com as chamas, perfurando as mais baixas membranas celestes. era o que eles mereciam, por não deixá-la ser.

(mas --
mas uma madame mariposa que por ali passava pousou-lhe no ombro e sussurrou-lhe mil asas de andorinha.)

um grito morreu na garganta prateada. a duas colinas dali, um balão subia até o além-termosfera. "ousarias?" sim -- por supuesto. então ela caminhou do infravermelho, passando pelo amarelo, até o ultravioleta. jamais deixaria que a esmagassem com interrogações novamente.

you goat maya art uno.

certo, resolvi reler os últimos dois posts e parabéns para mim, sou perfeitamente insana. preciso parar de agir assim urgentemente antes que algo ruim de verdade me aconteça e eu acabe por dizimar toda a raça humana, só de raivinha. afinal de contas, eu vivi vinte anos assim e não é como se eu estivesse bem, né. digo, as coisas estão todas bem, na medida do possível, só eu que não estou bem.

mas há um lado bom nesses insights. pelo menos eu vejo tudo o que está errado (e, oh lala quel surpris!, tudo o que eu achava que estava errado no mundo na verdade está errado comigo) e posso tentar mudar isso. devagarzinho, é claro, porque não posso simplesmente acordar amanhã e sair distribuindo flores e abraços enquanto internamente penso em extermínios. hoje ao menos consegui olhar para uma menina ultramontada, brincos enormes e barriga de fora e salto alto e dois quilos de colares, cinco de maquiagem, e não desprezá-la por completo. até sorri para ela, mas foi um sorriso de verdade, durante alguns segundos até me senti igual a ela. não como se eu estivesse ultramontada, mas como se ela fosse uma pessoa exatamente como eu, apenas com um invólucro diferente. e provavelmente é esse mesmo o caso. é muito difícl enxergar isso, ao menos para mim.

aí lembrei de kissing book.

(hold you head up, little girl
don't be scared off by the world
and all its bitterness,
because everyone's just like you
and everyone needs friends.
)

enfim, suponho que não seja tão difícil assim. e, na pior das hipóteses, ao menos vou ter gastado meu tempo tentando fazer algo bom, para mim e para os outros, porque, let me tell you, se eu me olhasse de fora e não conhecesse meus motivos para ser tão esnobe, eu me socaria. acho que amanhã vou indeed ser muito legal com as pessoas à minha volta, porque elas merecem medalhas, pérolas e condecorações por me aguentarem.
quer dizer, parando para pensar, eu não tenho a mínima idéia do que seria o ideal, a nível de ajuda externa. porque se alguém virasse para mim e dissesse: FIQUE CALMA, eu obviamente ficaria mais nervosa ainda e gritaria com a pessoa. se alguém virasse para mim e me batesse até eu me acalmar, eu teria um surto psicótico e gritaria muito (digo, muito mesmo, eu acho impressionante a capacidade que eu tenho de ser passiva-agressiva, eu simplesmente explodo, é exatamente essa a palavra: eu explodo, meu descontrole não é uma coisa que cresce lentamente, ele simplesmente aparece com força total, de um momento para o outro, e é detestável, nunca sei quando vou querer quebrar atirar um prato em uma pessoa, é imprevisível até para mim), enfim, gritaria mais do que na primeira opção e bateria portas e esse tipo de coisa -- nothing so ridiculously teenage, nothing so childish.

o fato é, então, que ninguém pode me fazer ficar calma, só eu. bem, que maravilha. adoro com muita força depender só de mim para fazer algo dar certo, é realmente perfeito porque sou uma pessoa com um inigualável talento para estragar tudo e largar tudo no meio e xingar durante horas e desistir. eu não suporto coisas que não dão certo logo de cara, não dá. eu jamais insisto em uma porta fechada -- exceto quando há uma fresta; se há uma fresta, posso ficar anos insistindo no mesmo ponto, mas se uma porta se fecha eu sou capaz de roer um poste, de tanta frustração. sou perfeitamente incapaz de procurar outra porta antes de manifestar toda a minha fúriapelo fato da porta estar fechada.

imagine assim: um hotel. com uns vinte quartos por andar, não sei, um monte. eu estou no hall de um dos andares, e isso é minha vida, e há muitas, muitas portas. e eu preciso entrar em alguma delas. eu tento a primeira, que está entreaberta, e, de repente, a porta se fecha com muita força, quase esmagando meu rosto contra a madeira. o que eu faria?

bem, se eu fosse uma pessoa calma, eu daria de ombros e passaria para a segunda porta.

não sendo uma pessoa calma, eu daria uma jeito de atravessar uma banana de dinamite através da fechadura. e esperaria sentadinha até a explosão. quando o habitante daquele quarto saísse enfurecido, perguntando o porquê da banana de dinamite, eu simplesmente diria "ora, pensei que não tivesse problema nenhum em explodir esse quarto, já que COMO VOCÊ É UMA PESSOA HORRÍVEL E NÃO ABRIU A PORTA PRA MIM, achei que estava vazio". só pra ser irritante, eu diria isso. só para que a minha frustração atingisse a todos, porque naonde que é justo eu me frustrar e os outros continuarem bem? todos têm de sofrer comigo, certo?

errado, mas é assim que eu opero.
ou operava, né, agora que me descobri como sendo uma pessoa horrível a esse ponto, vou tentar me acalmar e respirar fundo e contar até dez e pensar em galáxias, porque todos os problemas do mundo parecem absolutamente banais (e a maioria realmente é, pelo menos os meus) quando se pensa em escala astronômica. enfim.

sit me down, shut me up.

eu só queria ficar calma, só isso. entende? manter a calma, em todos os sentidos. pois não há nada mais fácil no mundo do que me fazer perder a calma. um garfo que cai no chão, uma réplica infeliz, um evento próximo, uma coisa qualquer que não sai como eu gostaria, algo que não pode ser encontrado, algo que quebra, algo que sai do plano que eu havia previsto -- e lá estou eu de novo, as mãos tremendo, a boca seca e atirando as piores ofensas a tudo, tudo errado, tudo errado, onde já se viu algo dar tão errado assim?

principalmente quando segundos estão envolvidos. segundos, no caso, são quaisquer pessoas. então um segundo me diz algo que não quero ouvir -- e sou capaz de passar noite inteiras acordada por algo que, daqui a um mês ou dois, será desmentido, esquecido, arquivado, ultrapassado, e eu terei perdido a calma em vão. isso contribui apenas para a cavação de um circular buraco na parede do meu pobre estômago, que reclama e reclama e não é ouvido jamais, porque onde já se viu tudo dar errado assim?

mas nem tudo dá errado. eu diria que 70% das coisas vai bem. porém:

yes, i am blind
no, i can't see
the good things
just the bad things, oh...


esses 70% eu não levo em consideração. quero teimosamente que os outros 30% dêem certo. e insisto e insisto e insisto. percebe o esforço inútil? e lá vou eu, cavando, cavando, até que um dia meu suco gástrico irá se espalahar por todo o meu corpo e aí sim verei o que é dar TUDO errado. porque se eu já mal me suporto sendo, digamos, normal, quem dirá com órgãos derretidos, não é?

olhar para os lados é ainda pior. porque absolutamente todos parecem estar bem, perfeitamente bem, a cabeça erguida, caminhando sempre, enquanto permaneço aqui, sempre aqui, sempre a mesma coisa, os mesmos problemas, os mesmos dias, os dias todos iguais etc. desgastante, eu diria. inútil, eu diria. porque as pessoas estão todas em pedaços, também, mas elas fingem tão bem que uau. digo, nem todas. algumas pessoas estão bem mesmo -- e sabe quais são elas?

adivinhe aí.

certo, eu digo.

são AS QUE MANTÉM A CALMA. não as que entram em pânico o tempo todo, como eu. é até ridículo querer ficar bem quando se é descontrolada, porque mesmo que eu tivesse a vida mais legal de toda a orbe terrestre, eu iria eventualmente me descontrolar por algum motivo muito banal (por exemplo: o dry martini que meu personal butler me trouxe caiu no chão e molhou meus sapatos e oh, eu iria sair em 10 minutos para encontrar liv ullmann e agora minha noite foi ARRUINADA, ARRUINADA, OH CÉUS O QUE FIZ PARA MERECER TAL CASTIGO? -- porque eu sou bem assim, pergunto sempre o que fiz só porque sei que não fiz nada e aí posso me sentir injustiçada e vítima das adversidades e não há nada melhor, para uma pessoa descontrolada, se sentir assim e poder culpar a todos por não serem bonzinhos o bastante com ela, eu juro), e tudo aquilo não me serviria de nada, porque eu iria acabar quebrando um vaso na cabeça de alguém (provavelmente a minha própria) e seria um horror, uma deselegância sem tamanho.

então eu só queria ficar calma. porque aí eu poderia até aguentar a minha própria vida, que não é a mais legal, mas também não é a pior, porque, diga-se de passagem, não há nada de tão ruim assim acontecendo, meus pais não me violam, meus amigos não curtem intrigas nonsense, meus cigarros não acabaram, meu roteiro é o mais legal do mundo e é óbvio que vai ser aprovado, há chocolates e filmes lá embaixo, nenhuma lagartixa entrou aqui hoje, o gato respira suavemente debaixo da cama e está tudo bem, sabe, está tudo muito bem. mas eu sempre encontro um motivo para reclamar, sempre. é incrível. eu deveria direcionar essa energia para coisas mais úteis, como, não sei, vamos dizer assim, eu deveria direcionar essa energia para terminar de ler o hobsbawm.

mas não, já até desisti porque prefiro mil vezes reclamar do livro comprido do que dispensar uma hora por dia para lê-lo. uma hora só já bastaria para que eu o terminasse em uma semana -- e ainda daria tempo de ler mais algumas peças do brecht e, enfim, infinitas coisas.

eu diria que alguém precisa me bater com um martelo na cabeça até que eu finalmente fique calma, mas, me conhecendo, eu certamente ficaria muito mais descontrolada e não descansaria até acabar com a vida da pessoa. à base de machadadas. droga.

mardi 20 janvier 2009

i want to hear you say that you were wrong again.

j'ai un coeur qui sait quand il a raison. (:

dimanche 18 janvier 2009

observar os próprios pés. há o sol, morno e longíquo, como no inverno -- mas é verão. observar os próprios pés e as formigas que neles escalam, à procura de quê? ninguém sabe, apenas elas. elas caminham até os joelhos e nada encontram. o vestido floral é leve demais. observar as próprias mãos. viver apenas de pão e consolo (pois chorar parece agora muito violento), em espera.
sem saber pelo que é que se espera.
durante o inverno, pela primavera; durante a primavera, pelo verão; durante o verão, pelo outono; durante o outono, pelo inverno, e assim por diante. esperar em círculos, espiralando ao redor de si como um planeta sem satélites. sozinha. nenhum lugar para ir. o planeta inteiro aberto: um jardim -- e ainda assim, nenhum lugar para ir.
possibilidades penduram-se no ar úmido, como frutos -- amadurecem e então apodrecem, e ainda assim, nada a fazer. mas há paz: e pode-se conviver com o maior dos infortúnios, se houver paz (e ela perdura). um círculo, um triângulo.

1. buscar sempre a perfeição.
2. não se deixar abater.
3. elevar-se às circunstâncias.

esperar. observar os próprios pés e o capim que se estende em longas e demoradas colinas. observar as nuvens formando imensas sombras. observar. elevar-se do chão sem qualquer bater de asas. as árvores repreendem a espera. desdenham que um bípede sacrifique toda uma vida de mobilidade, em espera.¹
sem saber pelo que é que se espera.
"mas que mal há nisso?", ela pensa. "não é preciso ser feliz".


(¹) mas elas não compreendem que é preciso ficar imóvel, agora: elas que arranquem suas próprias raízes e então vejam como se sentem, como é dolorido não pertencer a lugar nenhum, a ninguém, como é aterrorizante pensar em nunca mais revê-lo, jamais, jamais.

samedi 17 janvier 2009

all of the king's horses and all of the king's men couldn't put my heart back together again.

o mais chato é não saber se isso é auto-sabotagem ou simplesmente persistência em um objetivo. por exemplo. se o príncipe tem de lutar com o dragão para chegar até a princesa, mas parece tão difícil, tão complicado, tão impossível (afinal de contas: um dragão é um dragão: não um rato, não um cão, mas um dragão gigantesco, cheio de escamas e espinhos, e brotando fogo da garganta) -- e então ele encontra uma saudável camponesa, nada como a princesa, mas, ainda assim, adorável. ele deve:

a) ignorar a camponesa, tão fácil, tão palpável, tão graciosamente comum como as margaridas -- e lutar contra o dragão mesmo sabendo que talvez ele morra na luta, que talvez não valha a pena arriscar a vida por uma princesa, mas, tendo um objetivo, continuar mesmo assim.

b) esquecer a princesa. princesas nem são tão adoráveis assim. quem é que garante que ela já não tenha sido violada (voluntariamente, é claro) por todos os cavalos e homens do rei? e mesmo que não tenha sido, quem é que garante que ela irá casar-se com ele, depois de matar o dragão? e além do mais, é tão mais confortável estar com a camponesa.

c) flip a coin.

qualquer um diria: b. mas quem mais pode saber a resposta, senão o príncipe? é a vida dele que será arriscada, é apenas dele que depende o que acontecerá depois.
mas e se nem mesmo ele souber? e se for um príncipe melancólico, devastado por uma sucessão de camponesas e princesas dizendo adeus adeus para sempre? e esta princesa acena de longe. ela sorri. embora seja apenas isso: acenos e sorrisos e nada mais, pas de promesse a l'éternell.

but is her sweet expression worth more than the peasant's love and affection?
she was haunted by the dead but friendly ghosts; as her helpers, they stayed as her hosts. but the reason why she kept them was her fear for herself, yes: she was dangerous, she might drink some wine, sing all night, mess up the yard; steal a man, rape his love then throw it away. and she became what she tried to avoid, she said: do now as i say, darling, not as i do; see the way i play kid, don't do as i do.
do not as i do, or you'll feel blue.

mercredi 14 janvier 2009

eu tenho duas dessas.

(:

estou escrevendo um livro para um urso. de um urso para um urso. porque só um urso pode compreender outro; humanos não.

gostaria de usar todas as minhas horas apenas sendo o urso do livro, mas quem disse? hobsbawm, você sabe; ele continua aqui, inteiro e maciço e gigantesco como uma grande torre. impossível movê-lo ou dissuadí-lo de ser inteiro e maciço e gigantesco; impossível penetrar nele e compreendê-lo, sinto muito.

o urso é metafísico. ele abrange todas as coisas, tenta compreendê-las, sua cabeça flutua.

adieu, tristesse II

"On my sixth birthday I drew myself a target for raindrops.
Inside the outer ring I wrote,
“Good aim. Well done little goose!”
In the inner ring I wrote,
“You are amazing. So accurate my little pea!”
And then there was a tiny bullseye,
too small to write anything inside.
I took the target into the garden and sat next to it.
I waited and waited with the excitement building as
the sky darkened.
Finally, the first drop fell and galloped down.
It landed, where else, dead centre!
Happy birthday!
I was so happy I shed a tear.
Then the tear and the raindrop fell in love.
I assumed the role of priest and had them
bound in holy matrimony.
Then I assumed the role of aeroplane and had them
flown to Brazil on a glittering honeymoon."

cliquez ici aussi

adieu, tristesse.

"But have you ever noticed that hair comes in a limited range of colours? Silvery white, blond, red, brown, and black...why is that?

It's because hair is made of wood, and those are the colours that wood comes in. Little spiders make hair by chewing up wood and secreting a keratin-based substance from their bottoms. While you sleep at night, the spiders come out from their hiding places and spin new 'webs' of hair on your head. It is worth noting that as men age, their smell changes, causing disorientation in the little hair-spinning spiders. As a consequence they spin less hair on a man's head and more in his ears, in his nostrils, on his eyebrows; indeed, often any part of the body except the head."

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optiganally yours, gepetto.

Here inside of the whale
Where I live
Alone

No one can find me in here
No one can bother me in here
No one even knows that I'm here
No one can shove me in here
And I can cha-cha all day
I can cha-cha all day

Now
Now I remember
What it's like
To breathe
Now
Now I remember
What it's like
To live

No one can find me in here
No one can bother me in here
No one even knows that I'm here
No one can shove me in here
And I can cha-cha all day
I can cha-cha all day

No one can find me in here
No one can bother me in here
No one even knows that I'm here
No one can shove me in here
And I can cha-cha all day
I can cha-cha all day
I really love it in here

In my room
I will be
In my room
I will be
Jumping around

In my room
I will be
In my room
I will be
Shaking my ass
All night and day

Now I remember
What it's like
To breathe
Now I remember
What it's like
To live

mardi 13 janvier 2009

*fights problems with bigger problems*

é assim: você está com uma dor de cabeça tão grande e tão constante e tão violenta e impiedosa, que oh. e não passa de jeito nenhum. aí você pensa, gênio que é, você, pessoinha genial, você pensa: já sei. e então você quebra seu braço. fratura exposta, aquelas coisas todas. e aí: missão cumprida, a dor de cabeça passou.

mas agora tem o braço, a fratura exposta. e dói mais do que a dor de cabeça. e você não tinha pensado nisso antes. e você se deu muito mal, porque talvez a dor de cabeça passasse eventualmente sem ninguém notar, mas agora, além de doer, todo mundo está vendo o osso saindo pra fora do seu braço e tal e coisa. é uma prova concreta de que você está morrendo de dores; é a materialização da dor de cabeça, só que pior.

então, é assim que eu resolvo meus problemas: criando outros em cima. parabéns para mim.
o difícil é compreender onde tudo começou, sabe. o ponto exato onde a pessoa abriu os olhos e decidiu-se, entendendo enfim: que era aquilo mesmo, e nada poderia ser mudado. that's you're life, eles dizem -- it doesn't get any better than this. e aceita-se, como se aceita mais uma xícara de chá.

e eu sei que faz muito tempo que eu aceitei (ou inventei, for that matter) o meu título de rejected. porque, desde que eu me lembro, desde que eu era muito pequena, já havia essa grande frase terrível adejando ao redor da minha cabeça, sem nunca me deixar esquecer que eles vão me abandonar, a não ser que eu faça exatamente o que eles quiserem.

eles, no caso, são todas as pessoas que eu conheço. alguns poucos, pouquíssimos, estão fora dessa lista. duas pessoas. uma delas mora na frança, agora; a outra, recém-conhecida, mora no rio de janeiro. então você vê contra o que eu luto. o tempo todo aquelas ameaças horrendas de como todos vão embora e eu ficarei sozinha sozinha sozinha pra sempre. o tempo todo fingindo ser absolutamente dócil, agradável, always there, enquanto não consigo resolver absolutamente nada da minha vida.

e eventualmente todos irão embora, voando alegres enquanto eu não tive tempo de construir as minhas asas. ou whatever. e nada vai mudar, sabe. haverão novas pessoas e blablabla, e vai ser sempre a mesma coisa.

seria mágico saber exatamente quando foi que eu me senti assim pela primeira vez. e poder voltar no tempo. e me explicar que não precisa ser assim, as coisas não precisam ser sempre tão ruins. ou mudar a situação, não sei. como filme, sabe? qualquer coisa parecida. apagar a idéia enquanto ela ainda era recém-nascida, ainda frágil; não um monstro com raízes de sequóia como é hoje. mas algo pequeno e removível.

hoje é mais difícil. hoje é quase impossível. cansei de, milhares de vezes, decidir que não seria mais assim -- apenas, para no dia seguinte, esquecer de tudo e voltar ao início; e é tão cansativo, tão frustrante duvido que haja algo mais frustrante do que tentar chegar a algum lugar por várias vezes, e voltar sempre ao ponto de partida. a cada vez é mais difícil tentar chegar ao objetivo. até que um dia desiste-se de sair; desiste-se de respirar.

oh, enfim, enfim. mais cansativo ainda é falar sobre isso. i rest my case.

samedi 10 janvier 2009

i don't do crowds(everyone put it down to rudeness). i laughed out loud -- could they not see that it was sadness? please come to save me from myself again, to shield me, to disguise; oh, my heart has a secret -- and this can make you sigh; and me, cry.

jeudi 8 janvier 2009

les plumes du sommeil.

jamais dormirei novamente, tenho certeza, como bem se vê. hoje ainda parece ontem, é o maior hoje de todo o mundo, porque passei a madrugada toda ouvindo mil músicas e tentando muito me afeiçoar ao hobsbawm, mas -- não que ele seja ruim, claro. e além de tudo usa os óculos mais legais do mundo. mas, sabe? quilos de páginas sobre a polônia invadida, sobre francisco ferdinando, sobre as alianças, sobre os números de vítimas, os motivos, les photographies, les explications, faute d'autre chose.

sem contar que não faço a mínima idéia de quem sejam os otomanos. houve uma aula sobre eles há muito anos, mas tudo o que consta na minha limitadíssima enciclopédia mental sobre eles é: "otomanos who?". e nem ao menos me magoa o fato de não saber quem são os otomanos. na verdade, me recuso a aprender sobre eles, prefiro inventar que foram um povo completamente impossível, cheios de raposas, botas enormes, barbas, adagas, castelos, ruínas, pinheiros, azuis, verdes, e que viviam em tocas como coelhos.

além disso, hoje vou revisitar meu passado. todos sentados em uma mesa sorrindo e uau, como você mudou desde o colégio, uau, o que tem feito? mas eu não tenho feito nada, quer dizer; descobri um monte de bandas legais da escandinávia, essa semana; e fui à auto-escola fazer minha matrícula só porque preciso ir buscar pessoas queridas no aeroporto, no terceiro mês; e passei uma dessas madrugadas assistindo um pequeno filme sobre o amor do kieslowski, e, oh, por falar nisso, não durmo mais.

enquanto isso, eles me dirão de seus amantes e empregos, todas essas efemeridades. quem sabe eu possa fazer a anna karina e dizer que não me apaixono mais, porque é um péssimo hábito (e, de fato: mas o motivo não é esse), e todos sabemos que eles vão revirar os olhos e suspirar e oh, sua mentirosinha. e quanto a empregos... i don't want work to change my behavior; i don't want work, no, i'm not made for labor. eu arranjar um emprego agora é tão fora de questão quanto, digamos, engolir um alce. vivo e inteiro.

e ah, não é má-vontade, mas tanto menos quero ouví-los falando sobre como estão todos bem e felizes e settled e amando, e sobre como sabem exatamente o que esperam do futuro, e sobre como encontraram, em definitivo, suas metades perfeitamente opostas e simétricas e tal e coisa. porque serei obrigada a desprezar. só ficarei feliz se alguma das garotas anunciar que está grávida. do espírito santo ou de luiz carlos prestes. aí sim.

só uma coisinha.

então.
eu desaprovo com toda a força a reforma ortográfica, ok? me recuso a escrever pêra sem acento, ok? e ainda: a tirar os hífens das coisas que têm de ser ligadas por hífens. como arco-íris, que é incompleto sem um bracinho unindo firmemente uma palavra à outra. porque arco íris me faz pensar em arcos (digamos: o arco do triunfo, parênteses, arcos de pôr no cabelo etc) e olhos, que absolutamente não têm nada a ver com um arco colorido no céu, mágico por definição.
superprotesto. vou continuar acentuando minhas palavras como eu bem aprendi. e, se bobear, relançarei "bôca", "êle" e coisas assim.

mardi 6 janvier 2009

"just because something starts differently, doesn't mean it's worthless."
~peter bjorn & john

oh, se eu tivesse descoberto essa frase um pouco antes, oh, definitivamente não estaríamos aqui, a cabeça enfiada em um aquário de boas-maneiras e polidez, os corpos inertes em belas cadeiras. oh, não. seríamos felizes, talvez.

lundi 5 janvier 2009

marie-caroline havia nascido na estação dos pêssegos.

dimanche 4 janvier 2009

nunca falha. o novo ano começa e enfio a cabeça em um escafandro cheio de respiráveis sonhozinhos maravilhosos, tudo há de dar certo, tudo se renova, as folhas, as flores, os frutos, oh! consequentemente, milhares de novas vontades artísticas surgem, e penso que deveria ir à pinacoteca porque o masp e o mam -- honestamente. não consigo me concentrar nesses lugares: o masp é barulhento e o mam é rodeado por vendedores de algodão-doce tão róseos, lustrosos, de doçura inexata -- é impossível não pensar apenas neles.
mas aí vou até a pinacoteca e sempre procuro por um desenho bobo de uma geladeira e de um fogão que eu vi uma vez, há dois ou três anos; óbvio que o desenho não está mais lá, mas procuro sempre. ao invés disso, encontro dezenas de obras que esqueço assim que saio em direção ao pseudo big ben na estação da luz, me sento em frente ao coreto, acendo um cigarro. ali é sempre azul.

então volto pra casa sem nenhuma ingestão artística considerável, me sento na cadeira desanimada e escrevo sobre pássaros e gaiolas e abstratices e sempre me canso rápido e jamais uso maiúsculas.
como começar bem o ano -- ato 2:
seja razoável e surrealista.




Konx-om-Pax - Hands from Konx-om-Pax on Vimeo.
como começar bem o ano -- ato 1:
cante para o gato.




Jamie Lidell - Yougotmeup (Warp Records) from Konx-om-Pax on Vimeo.

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