dimanche 18 janvier 2009

observar os próprios pés. há o sol, morno e longíquo, como no inverno -- mas é verão. observar os próprios pés e as formigas que neles escalam, à procura de quê? ninguém sabe, apenas elas. elas caminham até os joelhos e nada encontram. o vestido floral é leve demais. observar as próprias mãos. viver apenas de pão e consolo (pois chorar parece agora muito violento), em espera.
sem saber pelo que é que se espera.
durante o inverno, pela primavera; durante a primavera, pelo verão; durante o verão, pelo outono; durante o outono, pelo inverno, e assim por diante. esperar em círculos, espiralando ao redor de si como um planeta sem satélites. sozinha. nenhum lugar para ir. o planeta inteiro aberto: um jardim -- e ainda assim, nenhum lugar para ir.
possibilidades penduram-se no ar úmido, como frutos -- amadurecem e então apodrecem, e ainda assim, nada a fazer. mas há paz: e pode-se conviver com o maior dos infortúnios, se houver paz (e ela perdura). um círculo, um triângulo.

1. buscar sempre a perfeição.
2. não se deixar abater.
3. elevar-se às circunstâncias.

esperar. observar os próprios pés e o capim que se estende em longas e demoradas colinas. observar as nuvens formando imensas sombras. observar. elevar-se do chão sem qualquer bater de asas. as árvores repreendem a espera. desdenham que um bípede sacrifique toda uma vida de mobilidade, em espera.¹
sem saber pelo que é que se espera.
"mas que mal há nisso?", ela pensa. "não é preciso ser feliz".


(¹) mas elas não compreendem que é preciso ficar imóvel, agora: elas que arranquem suas próprias raízes e então vejam como se sentem, como é dolorido não pertencer a lugar nenhum, a ninguém, como é aterrorizante pensar em nunca mais revê-lo, jamais, jamais.

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