mercredi 21 janvier 2009

sit me down, shut me up.

eu só queria ficar calma, só isso. entende? manter a calma, em todos os sentidos. pois não há nada mais fácil no mundo do que me fazer perder a calma. um garfo que cai no chão, uma réplica infeliz, um evento próximo, uma coisa qualquer que não sai como eu gostaria, algo que não pode ser encontrado, algo que quebra, algo que sai do plano que eu havia previsto -- e lá estou eu de novo, as mãos tremendo, a boca seca e atirando as piores ofensas a tudo, tudo errado, tudo errado, onde já se viu algo dar tão errado assim?

principalmente quando segundos estão envolvidos. segundos, no caso, são quaisquer pessoas. então um segundo me diz algo que não quero ouvir -- e sou capaz de passar noite inteiras acordada por algo que, daqui a um mês ou dois, será desmentido, esquecido, arquivado, ultrapassado, e eu terei perdido a calma em vão. isso contribui apenas para a cavação de um circular buraco na parede do meu pobre estômago, que reclama e reclama e não é ouvido jamais, porque onde já se viu tudo dar errado assim?

mas nem tudo dá errado. eu diria que 70% das coisas vai bem. porém:

yes, i am blind
no, i can't see
the good things
just the bad things, oh...


esses 70% eu não levo em consideração. quero teimosamente que os outros 30% dêem certo. e insisto e insisto e insisto. percebe o esforço inútil? e lá vou eu, cavando, cavando, até que um dia meu suco gástrico irá se espalahar por todo o meu corpo e aí sim verei o que é dar TUDO errado. porque se eu já mal me suporto sendo, digamos, normal, quem dirá com órgãos derretidos, não é?

olhar para os lados é ainda pior. porque absolutamente todos parecem estar bem, perfeitamente bem, a cabeça erguida, caminhando sempre, enquanto permaneço aqui, sempre aqui, sempre a mesma coisa, os mesmos problemas, os mesmos dias, os dias todos iguais etc. desgastante, eu diria. inútil, eu diria. porque as pessoas estão todas em pedaços, também, mas elas fingem tão bem que uau. digo, nem todas. algumas pessoas estão bem mesmo -- e sabe quais são elas?

adivinhe aí.

certo, eu digo.

são AS QUE MANTÉM A CALMA. não as que entram em pânico o tempo todo, como eu. é até ridículo querer ficar bem quando se é descontrolada, porque mesmo que eu tivesse a vida mais legal de toda a orbe terrestre, eu iria eventualmente me descontrolar por algum motivo muito banal (por exemplo: o dry martini que meu personal butler me trouxe caiu no chão e molhou meus sapatos e oh, eu iria sair em 10 minutos para encontrar liv ullmann e agora minha noite foi ARRUINADA, ARRUINADA, OH CÉUS O QUE FIZ PARA MERECER TAL CASTIGO? -- porque eu sou bem assim, pergunto sempre o que fiz só porque sei que não fiz nada e aí posso me sentir injustiçada e vítima das adversidades e não há nada melhor, para uma pessoa descontrolada, se sentir assim e poder culpar a todos por não serem bonzinhos o bastante com ela, eu juro), e tudo aquilo não me serviria de nada, porque eu iria acabar quebrando um vaso na cabeça de alguém (provavelmente a minha própria) e seria um horror, uma deselegância sem tamanho.

então eu só queria ficar calma. porque aí eu poderia até aguentar a minha própria vida, que não é a mais legal, mas também não é a pior, porque, diga-se de passagem, não há nada de tão ruim assim acontecendo, meus pais não me violam, meus amigos não curtem intrigas nonsense, meus cigarros não acabaram, meu roteiro é o mais legal do mundo e é óbvio que vai ser aprovado, há chocolates e filmes lá embaixo, nenhuma lagartixa entrou aqui hoje, o gato respira suavemente debaixo da cama e está tudo bem, sabe, está tudo muito bem. mas eu sempre encontro um motivo para reclamar, sempre. é incrível. eu deveria direcionar essa energia para coisas mais úteis, como, não sei, vamos dizer assim, eu deveria direcionar essa energia para terminar de ler o hobsbawm.

mas não, já até desisti porque prefiro mil vezes reclamar do livro comprido do que dispensar uma hora por dia para lê-lo. uma hora só já bastaria para que eu o terminasse em uma semana -- e ainda daria tempo de ler mais algumas peças do brecht e, enfim, infinitas coisas.

eu diria que alguém precisa me bater com um martelo na cabeça até que eu finalmente fique calma, mas, me conhecendo, eu certamente ficaria muito mais descontrolada e não descansaria até acabar com a vida da pessoa. à base de machadadas. droga.

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